PAZ À ALMA DAS ZUNGUEIRAS MORTAS PELA POLÍCIA

Mais do que a comemoração sobre a emancipação da mulher, 8 de Março traz em recordação as mortandades das vendedoras ambulantes, em Angola, protagonizadas pela polícia sob comando do desumano do bando do MPLA.

Por Domingos Miúdo

Em memória, recorda-se o dia 7 de Julho de 2008 quando um agente da Polícia Nacional (PN), no mercado do São Paulo, em Luanda, alvejou a face da vendedora Rosa Domingos, que naquele instante tomava a sua refeição de almoço na companhia de outras vendedoras. O tiro foi fatal tendo Rosa sucumbido imediatamente.

O agente em questão estava na companhia de sua esposa que fazia compras naquele mercado, tendo se deparado com um assaltante que tentava roubar os seus haveres, procurou disparar contra este, contudo, no final acabou atingindo mortalmente a zungueira.

Recorde-se ainda que Rosa Domingos foi, na época, a segunda vítima mortal da polícia no mercado do São Paulo em menos de duas semanas, depois de um jovem espancado até a morte na segunda quinzena de Junho de 2008.

Paralelamente a este caso, em Março de 2019, Juliana Kafrique, outra vendedora ambulante de 28 anos, foi morta por um agente da polícia angolana, numa intervenção da chamada “Operação Resgate”. Em vida, a zungueira deixou marido e três filhos, incluindo um bebé que na altura estava com seis meses, neste momento já deve estar a fazer cinco anos.

Daí que, na época, as zungueiras mostraram-se insatisfeitas e cansadas contra a violência policial.

“O polícia, quando vem, não tem aquele amor, destrói o nosso negócio. Eles têm que mobilizar bem as pessoas, não é estragar o negócio. Tem que se conversar com as pessoas e não é começar a bater nas senhoras”, disse uma zungueira recordando o facto

José Kassoma, da Associação Nacional de Vendedores Ambulantes, não acredita num fim breve da violência policial. Entretanto, apelou ao envolvimento de todos para pôr fim a esta situação.

“Pedimos o apoio de toda a população angolana e não só, também de alguns parceiros internacionais, para que se juntem à causa da Associação Nacional de Vendedores Ambulantes, para que haja paz nessa actividade e organização”, disse na ocasião. “Basta de mortes da mulher zungueira, como têm acontecido no nosso país!”, finalizou exigindo.

As mortes não pararam por aí, estamos agora no dia 9 de Dezembro de 2022, numa sexta-feira, em que mais uma zungueira foi vítima das agressões policiais que, por meio dos disparos destes, acabou sendo alvejada e morta de imediato, em Luanda, no largo da Teixeira (Maianga). O comunicado foi avançado pela própria Polícia Nacional, referindo-se como uma acção acidental, fruto uma vaga de violência por parte dos populares, “extremamente hostis”, com grande envolvimento e agressão com objectos contundentes e de arremesso, contra a força policial.

O comunicado policial adiantava que os agentes se sentiram ameaçados e efectuaram alguns disparos de dispersão, “dos quais um atingiu de forma acidental e mortal uma cidadã”, seguindo-se um tumulto e vandalização numa esquadra policial móvel, oito automóveis e instalações da Gabinete dos serviços de Fiscalização daquela circunscrição.

No entanto, relatos e vídeos, na altura, que foram postos a circular nas redes sociais contavam uma versão diferente dos acontecimentos, em que um polícia tentava extorquir e confiscar os produtos que a mulher tentava vender, tendo esta resistido e sido baleada na cabeça.

Revoltados, os populares causaram distúrbios e destruíram a esquadra móvel, enquanto a polícia recorria a disparos para dispersar a multidão.

Daí que, a Associação Mãos Livres, organização angolana de defesa dos direitos humanos, pediu, naquelas instâncias, a responsabilização dos autores dos disparos da polícia que causaram a morte da vendedora ambulante, numa “violação greve do direito à vida” por parte das autoridades.

“Temos a lamentar o facto, é mais uma violação dos direitos humanos, uma violação grave do direito à vida, num contexto em que o país vive uma certa crise de políticas públicas para a criação de empregos e a via que a maioria encontrou para sobreviver é vender nas ruas”, afirmou na altura o presidente da Associação Mãos Livres à Lusa.

Guilherme Neves recordava que a mulher morta no Largo da Teixeira, não era a única que no país havia sido vítima de disparos de agentes da polícia.

“Tivemos outros cidadãos que morreram por simplesmente terem escolhido esta via para encontrar a sobrevivência, daí entendermos que o país continua a falhar neste quesito, quando os que devem proteger a vida fazem o contrário”, lamentou.

A lista é longa sobre as mortes de zungueiras efectuadas pela polícia. Levaria o dia todo se se quisesse discorrer sobre todas elas, mas aqui fica o respaldo das atrocidades que a polícia do MPLA tem cometido ao longo do seu governo contra aquelas pessoas que, diante pobreza extrema que se acentua no país, lutam todos os dias para no final ter sempre algum pão para dar de comer as suas proles.

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